Segundos que parecem uma eternidade: uma experiência que mudou minha vida

Segundos que parecem uma eternidade: uma experiência que mudou minha vida

Ontem, antes de iniciarmos a Gira dos Pretos Velhos, eu estava conversando com uma filha de santo no Núcleo Mata Verde, e ela me contou algo que a deixou muito confusa.

Ela contou que, em determinado momento do dia, sentiu como se tivesse se desligado do mundo. Foi algo rápido, mas, por alguns segundos, perdeu a noção do tempo e do espaço. Quando voltou a si, ainda ficou com aquela sensação estranha, como se tivesse acontecido algo muito fora do comum. Ela me perguntou o que poderia ser aquilo.

Na hora, eu respondi do jeito que a gente entende dentro da espiritualidade. Muitas vezes, quando isso acontece, pode ser um transe rápido, um pequeno desdobramento, ou até mesmo uma forma da espiritualidade nos mostrar que existem outros planos além do físico.

Mas, depois que cheguei em casa, fiquei refletindo mais a fundo e decidi pesquisar o que a ciência, especialmente a neurociência, diz sobre isso. Descobri que, mesmo sem usar a palavra “espírito”, a ciência também reconhece que existem momentos em que nossa consciência parece sair do normal e o tempo não é percebido da mesma maneira.

Enquanto escrevia sobre isso, me lembrei de uma experiência muito marcante da minha juventude, quando eu tinha 16 anos. Naquele tempo eu estava aprendendo a dirigir e, em um domingo, saí de carro com um amigo para passear. Por algum motivo que não sei explicar, tive uma vontade forte de correr mais do que deveria. As ruas eram de paralelepípedo, bem lisas, e quando cheguei em uma esquina, virei o carro em alta velocidade. O carro derrapou, bateu as rodas na sarjeta e foi em direção à calçada.

Foi aí que algo estranho aconteceu. Em questão de segundos, o tempo pareceu parar. Eu senti como se tivesse saído do meu corpo e estivesse assistindo a cena de fora. Vi o para-brisa do carro quebrado, meu amigo ao lado ensanguentado porque tinha batido a cabeça, vi o carro batendo em uma árvore e até pessoas nas janelas e ao redor comentando o acidente. Tudo aconteceu como se eu estivesse em outra dimensão, vendo uma tragédia completa diante de mim.

Mas, de repente, voltei para dentro de mim. Estava com a cabeça abaixada, segurando firme o volante. Sem pensar muito, comecei a manobrar o carro em movimento. Não sei como, nem para onde, só deixei as mãos conduzirem. Quando levantei a cabeça, percebi que tinha conseguido controlar o carro por quase cinquenta metros e parado exatamente em segurança, na outra esquina. O mais estranho é que eu estava calmo, como se estivesse anestesiado. Continuei até a garagem da minha casa e só quando desci do carro percebi o tamanho do que tinha acontecido. Foi então que comecei a tremer sem parar.

Até hoje me pergunto: aquilo que senti aconteceu em outra realidade? Era uma visão do que poderia ter acontecido? Quem me protegeu naquele momento? Na época, eu já era médium e conhecia bem o que era um transe dentro da Umbanda. Alguns amigos diziam que foi meu anjo da guarda, outros falavam que era meu Exu que estava de prontidão. Independentemente da resposta, foi uma experiência que me marcou para sempre e reforçou ainda mais minha fé na espiritualidade e na umbanda.

A ciência, por outro lado, explica que em momentos de grande perigo o cérebro libera muita adrenalina. Esse hormônio faz nossos pensamentos ficarem acelerados e dá a impressão de que o tempo ficou mais lento. Em poucos segundos, o cérebro consegue simular várias possibilidades, como se fosse um filme mostrando o que pode acontecer. Isso explica porque muitas pessoas dizem que, em acidentes ou situações de risco, viram sua vida passar diante dos olhos. Além disso, o cérebro pode nos dar uma sensação de estar fora do corpo, algo que os psicólogos chamam de despersonalização. É como se a mente se protegesse do choque, fazendo a pessoa assistir de longe ao que está acontecendo.

Na visão espiritual, essa sensação pode ser entendida de outro jeito. Quando parece que o tempo parou, pode ser que o espírito tenha se desprendido um pouco do corpo, como em um desdobramento rápido. Algumas vezes, isso acontece para que possamos enxergar o que está além do mundo físico. Também pode ser a ação dos nossos guias e protetores, que intervêm para evitar um acidente ou nos mostrar que precisamos estar mais atentos. Na Umbanda, acreditamos que o anjo da guarda e os Exus guardiões têm essa função de proteção, e muitas pessoas relatam já terem sentido algo parecido em situações de perigo.

O mais curioso é que, mesmo falando de formas diferentes, tanto a ciência quanto a espiritualidade concordam em uma coisa: essas experiências são reais e transformadoras. A ciência chama de alterações na percepção do tempo, experiências dissociativas ou quase-morte. A espiritualidade chama de transe, desdobramento ou intervenção espiritual. Mas em ambos os casos, quem passa por isso nunca mais esquece.

No meu caso, aquela vivência de adolescente me ensinou que a vida é frágil, mas também é protegida por forças que nem sempre entendemos. No caso da filha de santo, aquela sensação rápida de desligamento pode ter sido apenas o cérebro reagindo a algum estímulo, mas também pode ter sido uma abertura para o espiritual. O mais importante é perceber que, seja qual for a causa, esses momentos nos fazem refletir e despertam em nós um respeito maior pela vida.

Eu acredito que quando o tempo parece parar é porque, de alguma forma, estamos sendo chamados a enxergar além. Talvez seja o corpo, talvez seja o espírito, talvez os dois ao mesmo tempo. O fato é que essas experiências nos lembram de que a vida não é só rotina, trabalho e preocupações. Existe algo maior, invisível, que nos acompanha e que às vezes se revela nesses segundos de silêncio profundo.

Essa lembrança da juventude ficou comigo até hoje. E a pergunta da filha de santo me mostrou que esse tipo de vivência continua acontecendo com muitas pessoas. Talvez seja hora de falarmos mais sobre isso, sem medo e sem mistério, entendendo que ciência e espiritualidade não são inimigas, mas duas formas de olhar para a mesma experiência humana.

E é por isso que eu digo: não importa se você acredita mais na ciência ou mais no espiritual, o que realmente importa é o que você faz com essas experiências. Para mim, elas sempre serviram para fortalecer a fé, para me lembrar de que existe vida além da morte e que não estamos sozinhos. Talvez esse seja o verdadeiro recado escondido quando o tempo parece parar.

Bom sábado a todos!

Axé!

São Vicente, 06/09/2025

Pai Manoel Lopes

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