Umbanda e juventude: uma jornada de fé e consciência

Umbanda e juventude: uma jornada de fé e consciência

Tenho dedicado boa parte do meu tempo, dentro do Núcleo Mata Verde, a ouvir e a me aproximar dos jovens que frequentam o Terreiro. É um trabalho que realizo com muito carinho, porque acredito que a juventude é uma das forças mais bonitas e transformadoras da vida.

Lembro-me da minha própria juventude, quando a mediunidade começou a se manifestar aos 12 anos de idade e, mais intensamente, aos 17, quando entrei para a Umbanda. Sempre tive uma mediunidade bastante ostensiva, e por isso não encontrei grandes dificuldades em aceitar o caminho espiritual que se abria diante de mim. Desde muito cedo fui um buscador, curioso e questionador, mas também profundamente ligado ao sagrado. Em minhas memórias mais antigas, sempre me reconheci como alguém naturalmente espiritualista, interessado em compreender o sentido da vida e as forças invisíveis que a movem.

A vida, com sua sabedoria, me conduziu a experiências que uniram a espiritualidade e o ensino. Durante muitos anos, paralelamente à minha atividade profissional principal, atuei como professor em um colégio técnico, lecionando para jovens do ensino médio. Foi nesse período que descobri que ensinar também era um dos propósitos da minha existência. Cada sala de aula se transformava em um espaço de aprendizado mútuo — onde eu ensinava, mas também aprendia com a energia, os sonhos e as inquietações da juventude.

Hoje, já aposentado da vida profissional formal, continuo ativo no trabalho espiritual. Este ano completo cinquenta anos de dedicação mediúnica à Umbanda — meio século de aprendizado, desafios e bênçãos. Ainda mantenho a mesma vontade de compartilhar conhecimento, realizar cursos, palestras e atividades no Núcleo Mata Verde, pois acredito que o aprendizado é uma das formas mais belas de servir à espiritualidade.

Atualmente, acompanho com alegria os jovens e adultos do Núcleo. Cada conversa, cada encontro e cada troca de experiências reforçam em mim a certeza de que o trabalho com a juventude é essencial para o futuro da Umbanda. Nos olhares curiosos, nas dúvidas sinceras e na vontade de aprender, vejo a chama do futuro acesa — uma chama que precisa ser cuidada, alimentada e guiada com amor, paciência e sabedoria.

Ao longo dos anos, tivemos a oportunidade de formar grupos de jovens umbandistas, onde discutíamos temas importantes sobre fé, espiritualidade e também sobre os desafios da vida cotidiana. Esses encontros sempre foram muito ricos, cheios de perguntas, reflexões e trocas de experiências. Percebi que, mais do que ensinar, eu aprendia muito com cada conversa, com cada história e com a maneira única que os jovens têm de enxergar o mundo.

Neste ano, o Núcleo recebeu uma quantidade significativa de novos jovens. Foi algo que me alegrou profundamente, mas também me fez refletir sobre a responsabilidade de oferecer um caminho espiritual que realmente os acolha e os ajude a crescer.

Acompanhando as redes sociais, tenho percebido um clima bastante hostil em muitos aspectos. As mensagens que circulam são, em sua maioria, voltadas para uma visão materialista, egoísta e frenética da vida. Falta profundidade, falta reflexão. Quase não vejo conteúdos que falem sobre o sentido da existência, sobre o autoconhecimento ou sobre os valores humanos e espirituais que deveriam ser a base de uma sociedade mais justa e consciente.

Infelizmente, o que predomina é uma mensagem cada vez mais voltada à sensualização, à busca por prazeres imediatos e superficiais. Os valores morais e éticos parecem ter ficado em segundo plano, substituídos por uma cultura do “ter” e do “aparecer”. É triste observar o aumento do uso de drogas, da violência, da falta de esperança e da apatia entre tantos jovens. Muitos se sentem perdidos, sem um propósito verdadeiro, enquanto o mundo parece caminhar para uma polarização cada vez mais intensa, marcada por desrespeito, intolerância e desprezo pela liberdade e pela convivência pacífica.

O que mais me entristece é ver que até mesmo dentro do meio religioso — inclusive em canais que se dizem de Umbanda — esse comportamento começa a se repetir. Vejo conteúdos carregados de preconceito, agressividade e superficialidade, priorizando questões materiais em vez de espirituais. Muitos tratam nossa religião apenas como uma manifestação cultural ou folclórica, esquecendo-se de que a Umbanda é, acima de tudo, um caminho de elevação, transformação e crescimento interior.

A Umbanda, com toda a sua beleza e sabedoria, pode — e deve — ser um farol para essas pessoas. Ela tem força para iluminar os corações em tempos de incerteza, dúvidas e confusão. Pode orientar os jovens a reencontrarem o equilíbrio, o propósito e a fé, mostrando que a verdadeira felicidade não está nas aparências nem nas conquistas materiais, mas na paz que vem de viver em harmonia com o bem, com a natureza e com o próprio espírito.

Foi a partir dessa inspiração que nasceu este projeto: escrever uma sequência de textos voltados especialmente para os jovens umbandistas, entre 15 e 30 anos, que desejam compreender melhor a si mesmos, a espiritualidade e o mundo à sua volta.
Esses textos irão tratar de temas sensíveis e importantes, que fazem parte do dia a dia dos jovens: ansiedade, autoestima, relacionamentos, propósito de vida, mediunidade, fé, família, escolhas e tantos outros assuntos que merecem ser olhados com cuidado, respeito e orientação espiritual.

Minha intenção não é dar respostas prontas, mas abrir caminhos de reflexão. Quero, junto com o amparo da espiritualidade, oferecer palavras que possam confortar o coração, fortalecer a fé e incentivar uma vida consciente, equilibrada e feliz.
A Umbanda nos ensina que cada pessoa tem um brilho próprio, um destino e uma missão. A juventude é o momento de descobrir esse brilho e aprender a colocá-lo a serviço do bem — da própria vida, da família, da sociedade e dos Orixás.

Ao longo das próximas semanas, estarei publicando aqui no blog os primeiros textos desse projeto. Cada um deles será escrito com o coração, inspirado pela sabedoria dos guias e pelo desejo sincero de ajudar. Que este espaço se torne um ponto de encontro entre gerações, onde possamos dialogar, aprender e crescer juntos.

Que cada jovem encontre nestas palavras um pouco de orientação, de esperança e de luz.
E que, guiados pela fé e pela força dos Sete Reinos Sagrados, possamos continuar construindo uma Umbanda viva, acolhedora e consciente — onde cada coração jovem sinta que há lugar, propósito e amor.

Axé! 🌿✨

Salve o Caboclo Mata Verde

São Vicente, 05/10/2025


Pai Manoel Lopes

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