A Criação do Universo segundo Tradições, Ciência e a Doutrina dos Sete Reinos Sagrados

Desde os tempos mais antigos, a humanidade sempre buscou entender como o universo foi criado.
Em diferentes culturas, povos e religiões, encontramos histórias, mitos e ensinamentos que explicam a origem de tudo o que existe. Essas histórias são chamadas de “cosmogonias”, e estão presentes em diversas tradições sagradas, como na Bíblia, no Alcorão, nos textos hindus, africanos e indígenas.
Todas elas têm algo em comum: a certeza de que há uma força superior, um Criador, que deu início a tudo.
Nas religiões chamadas de abraâmicas — o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo — encontramos uma narrativa conhecida por muitas pessoas no mundo todo: a história da criação contada no Livro do Gênesis. Esse livro faz parte da Bíblia, e também é respeitado por muçulmanos. No Gênesis, Deus cria o universo em seis dias e, no sétimo dia, descansa.
Ele começa criando a luz, depois o céu, a terra, os mares, as plantas, o sol, a lua, as estrelas, os animais e, por fim, o ser humano, homem e mulher.
É uma história muito antiga, contada há milhares de anos, mas que ainda hoje inspira fé e reflexão em muitas pessoas.
No Alcorão, livro sagrado do Islã, também há trechos que falam sobre a criação. Deus, chamado de Alá, é o criador de tudo.
Ele cria os céus, a terra e tudo o que existe entre eles. A criação também é apresentada como um ato poderoso, feito em seis etapas, ou “dias”, mas não necessariamente dias como conhecemos hoje, e sim períodos ou fases.
Com o passar do tempo, a humanidade foi desenvolvendo outros tipos de conhecimento. Com o avanço da ciência, começamos a entender como os planetas, as estrelas, a Terra e a vida foram se formando ao longo de bilhões de anos.
Descobrimos, por exemplo, que o planeta Terra tem cerca de 4,7 bilhões de anos, e que passou por muitas transformações até se tornar o que conhecemos hoje.
Muitas pessoas se perguntam: como conciliar a fé com a ciência?
A resposta está no equilíbrio. A fé não precisa entrar em conflito com a razão. A religião, muitas vezes, usa uma linguagem simbólica, cheia de significados espirituais. Já a ciência busca explicações baseadas em observações, testes e comprovações.
Quando olhamos para os dois lados com respeito, percebemos que podem se complementar. A fé dá sentido à vida, à alma e ao propósito. A ciência nos ajuda a entender o mundo ao nosso redor.
Na Umbanda, religião brasileira rica em diversidade, essa união entre fé e conhecimento é algo natural. A Umbanda é aberta ao diálogo com outras religiões e filosofias, como as tradições africanas, indígenas, cristãs, espíritas, hindus, entre outras.
Ela permite que cada um busque seu caminho espiritual com liberdade e consciência.
No Núcleo Mata Verde, desenvolvemos e divulgamos uma linha de pensamento espiritual que chamamos de Doutrina dos Sete Reinos Sagrados.
Segundo os mentores espirituais que acompanham nossos trabalhos, essa doutrina ajuda a entender melhor a relação entre o mundo físico (material) e o mundo espiritual (invisível aos olhos, mas presente em nossas vidas).
Essa doutrina parte da ideia de que Deus, o Criador, primeiro criou o mundo espiritual e, depois, o mundo material.
Nesse processo, foram criadas também as divindades, conhecidas na Umbanda como orixás.
Essas entidades são forças divinas, representantes diretos de Deus, que têm a missão de cuidar, criar e conservar tudo aquilo que foi criado.
Os orixás “descem” do Orum (mundo espiritual) para o Aiyê (mundo material), atuando em cada parte da criação. Para facilitar o entendimento desse processo, dividimos a formação do planeta Terra em sete grandes etapas, chamadas de Sete Reinos Sagrados. Cada reino representa uma fase importante da criação e está ligado a forças espirituais, elementos da natureza e à atuação dos orixás.
Vamos conhecer cada um desses reinos:
1. Reino do Fogo
Representa o início de tudo. A Terra recém-formada era uma imensa bola incandescente, composta por rochas derretidas, energia e calor extremos. Nesse estado inicial, o planeta era dominado pelo magma fervente, resultado da intensa atividade geológica e do bombardeio constante de meteoros. Essa fase simboliza o poder criador em sua forma mais bruta, o fogo primordial que prepara o nascimento de tudo.
2. Reino da Terra
À medida que o planeta foi resfriando, a camada externa começou a se solidificar, formando a crosta terrestre primitiva — a primeira superfície sólida da Terra. Mesmo nessa fase, a atividade vulcânica era intensa e o planeta ainda sofria colisões com asteroides e outros corpos celestes. Com o tempo, formaram-se as primeiras rochas, minerais, montanhas e vales. O solo verdadeiro, com matéria orgânica, só surgiria mais tarde, com o aparecimento da vida. Mas aqui nasce a base sólida da Terra, onde a criação vai se manifestar.
3. Reino do Ar
É quando começa a se formar a primeira atmosfera da Terra, composta por gases liberados pelas erupções vulcânicas, como dióxido de carbono, vapor d’água, metano, amônia e nitrogênio. Essa atmosfera primitiva não continha oxigênio livre em quantidade significativa. Mesmo assim, ela foi fundamental para o resfriamento do planeta e para manter a água em estado líquido. Bilhões de anos depois, com o surgimento de organismos que realizavam fotossíntese (como as cianobactérias), o oxigênio começou a se acumular, transformando a atmosfera e permitindo formas de vida mais complexas.
4. Reino da Água
Com a atmosfera estabelecida, a água começou a surgir no planeta em forma de chuvas constantes, que aos poucos criaram oceanos, mares e rios. A presença de água líquida foi um passo fundamental, pois ela é essencial para a vida. Nos oceanos primitivos, surgiram os primeiros organismos microscópicos, dando início à longa jornada da vida na Terra. A água simboliza o nascimento da vida e a fluidez da criação.
5. Reino das Matas
Com o passar de bilhões de anos, a vida foi se diversificando. Surgem as plantas, as algas, os fungos e, mais tarde, os animais. Primeiro nos oceanos, depois em terra firme. Florestas e vegetações cobrem o solo e criam ecossistemas complexos, onde a vida se manifesta em abundância e harmonia. É a fase da diversidade biológica, da interdependência entre os seres, e da conexão visível entre a terra, o ar, a água e a vida. A natureza agora é um grande organismo vivo.
6. Reino da Humanidade
Com o tempo, aparece o ser humano, resultado de milhões de anos de evolução. Trazendo consigo inteligência, consciência, emoções, linguagem, criatividade e escolhas, o ser humano é visto aqui como parte da natureza, e não como seu dono. Com sua mente e coração, pode tanto construir quanto destruir, e sua missão espiritual é agir em equilíbrio com o mundo que o acolhe.
7. Reino das Almas
Este é o momento em que a criação se torna consciente de si mesma no plano espiritual. Surge a psicosfera do planeta, ou seja, a vibração espiritual que envolve a Terra. Espíritos, entidades, guias e protetores passam a se relacionar diretamente com a humanidade e com os reinos da natureza. É o campo invisível que conecta o físico ao sutil, o corpo à alma, o tempo ao eterno. Aqui, os orixás, os ancestrais e as forças superiores se manifestam para guiar a evolução do planeta e de seus habitantes.
Essa estrutura dos Sete Reinos nos ajuda a compreender melhor a ação dos orixás, os vínculos espirituais, o axé, a magia, as hierarquias espirituais e a própria vida.
Cada reino pode ser compreendido como uma camada do universo, com sua própria função, energia e mistérios. Ao estudarmos os Sete Reinos, passamos a entender melhor a nós mesmos e a nossa ligação com o mundo espiritual.
Esses reinos emitem vibrações sutis que continuam atuando no cotidiano do planeta até os dias de hoje. Essas energias são conduzidas pelos orixás e mestres espirituais, que, ao manipulá-las com sabedoria, podem restaurar o equilíbrio do ser humano em sua jornada na Terra.
É importante lembrar que a Doutrina dos Sete Reinos não exclui outras formas de pensar. Ela dialoga com as descobertas da ciência, respeita os ensinamentos das religiões e se abre para o conhecimento de forma ampla.
Isso faz da Umbanda uma religião viva, dinâmica, inclusiva e em constante evolução.
Em um próximo texto, vamos aprofundar esse tema, explicando melhor como cada orixá atua em cada reino, como se dá a relação entre os planos da existência e como podemos usar esse conhecimento para melhorar nossa vida espiritual e material.
Que essa leitura tenha sido um ponto de luz no seu caminho.
Axé!
São Vicente, 28/06/2025
Manoel Lopes
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