A Umbanda, Mãe Espiritual e Caminho de Consciência

A Umbanda, Mãe Espiritual e Caminho de Consciência
Estas palavras são escritas com profundo respeito e reverência à Umbanda, esta Mãe Espiritual que, há aproximadamente cinquenta anos, me acolheu em seu seio e, desde então, tem sido fonte contínua de aprendizado, amparo e orientação. A Umbanda não se apresentou apenas como um caminho religioso, mas como verdadeira escola espiritual, oferecendo abrigo nos momentos de dor, consolo nas horas de aflição e direcionamento nas etapas do amadurecimento moral e espiritual. Tudo o que aqui se expressa nasce da vivência, da gratidão e do compromisso com essa religião que forma consciências, fortalece a fé e educa o olhar para o próximo com mais humanidade e responsabilidade.
No decurso dessa caminhada, torna-se claro que a Umbanda não promete facilidades nem soluções imediatas para os desafios da existência. Ela oferece consciência, discernimento e responsabilidade espiritual. Não comercializa milagres, mas ensina a lei de causa e efeito; não impõe dogmas, mas convida ao crescimento interior e à reforma íntima. É na convivência simples e profunda com os guias espirituais, aliados à prática constante da caridade, que se compreende o verdadeiro sentido da fé umbandista: servir com humildade, respeitar a vida em todas as suas manifestações e amar como princípio fundamental.
Entretanto, é impossível ignorar a tristeza que surge diante dos discursos preconceituosos, distorcidos e ofensivos que ainda recaem sobre a Umbanda, especialmente nos meios digitais. São julgamentos superficiais e ataques injustos, frequentemente proferidos por aqueles que desconhecem sua doutrina, jamais adentraram um terreiro de Umbanda ou nunca se dispuseram a ouvir com humildade e espírito fraterno. O preconceito oriundo da ignorância já é doloroso; quando se apresenta travestido de falso saber, torna-se ainda mais nocivo.
Mais lamentável, porém, é constatar que algumas dessas distorções partem de dentro do próprio meio religioso, por ações de indivíduos movidos por interesses pessoais, ganância, vaidade, rancor ou incompreensão doutrinária. Tais atitudes não maculam a Umbanda, mas revelam o quanto ainda se faz necessário o exercício do respeito, da ética e da responsabilidade espiritual entre seus próprios adeptos.
É diante desse contexto que este texto se apresenta, não como confronto, mas como esclarecimento; não como imposição de ideias, mas como testemunho sincero de vivência e compromisso com a Umbanda. Que estas palavras sirvam como gesto de gratidão, defesa consciente e amorosa a essa Mãe Espiritual que acolhe a todos sem distinção e educa, silenciosamente, por meio do exemplo.
A Umbanda pode ser simbolicamente comparada a uma pérola rara: perfeita em sua forma, íntegra em seu sentido e luminosa em sua essência. A pérola não nasce pronta nem em condições ideais; forma-se no interior da ostra, a partir de um elemento estranho, em meio a desafios e resistência. Ainda assim, transforma-se em algo precioso. Assim também a Umbanda surge em um contexto histórico marcado por dor, preconceito e exclusão, revelando-se, no entanto, como uma religião de profunda beleza, equilíbrio e luz espiritual.
Essa pérola espiritual assemelha-se igualmente à flor de lótus, que nasce na lama e em águas turvas, mas floresce pura, perfumada e majestosa. A Umbanda brota do encontro de saberes indígenas, da sabedoria africana, dos princípios cristãos e da espiritualidade universal. Mesmo emergindo em um cenário social adverso, marcado por desigualdades e intolerância religiosa, eleva-se como a flor de lótus, refletindo amor, caridade, humildade e inclusão.
Nos primeiros anos do século XX, a espiritualidade superior apresentou a Umbanda de forma clara e organizada ao mundo terreno. Por meio do Caboclo das Sete Encruzilhadas, manifestado por Zélio Fernandino de Moraes, foi anunciada uma religião sem portas fechadas, destinada a acolher todos os que buscassem auxílio espiritual, sem distinção de cor, classe social ou origem. Sua base fundamental seria o amor ao próximo, a prática da caridade e o compromisso com o bem.
Ao lado do Caboclo das Sete Encruzilhadas, destaca-se a presença serena e amorosa de Pai Antônio, expressão da sabedoria dos Pretos Velhos. Ele simboliza a paciência, a humildade e o conhecimento adquirido por meio da dor, da experiência e da superação. Seus ensinamentos demonstram que a verdadeira força reside na mansidão, que a autoridade espiritual se manifesta pela simplicidade e que a sabedoria se constrói no silêncio e na perseverança. Assim como a pérola se forma camada por camada, os ensinamentos dos Pretos Velhos são transmitidos de maneira gradual, profunda e respeitosa.
A Umbanda, como essa pérola luminosa e essa flor de lótus resplandecente, revela uma beleza que transcende o plano material. Sua luz não ofusca, mas aquece; seu brilho não separa, mas une. Ela ensina que todos os espíritos estão em processo contínuo de aprendizado e evolução, sendo cada ser humano digno de respeito, independentemente de suas imperfeições. Na Umbanda, ninguém é visto como condenado, mas como espírito em jornada evolutiva.
Essa religião não se coloca como detentora da verdade absoluta, mas como um caminho legítimo de crescimento espiritual. Seus guias e Orixás educam pelo exemplo, pelo acolhimento e pelo trabalho constante no bem. A Umbanda convida à reflexão, ao autoconhecimento e à responsabilidade espiritual, sempre aliando espiritualidade elevada à vivência prática no mundo material.
Assim, a Umbanda permanece como uma pérola viva, lapidada diariamente pela fé consciente de seus filhos e pela ação constante da espiritualidade. Como a flor de lótus que nasce do mangue e revela beleza imensa, a Umbanda segue florescendo, levando luz onde há dor, esperança onde há sofrimento e amor onde ainda persiste a intolerância. Simples em sua forma, mas infinita em sua profundidade, é uma religião destinada a iluminar todos aqueles que dela se aproximam com respeito, humildade e sinceridade.
Minha profunda gratidão à Umbanda, Mãe Espiritual e caminho de luz.
Saravá.
São Vicente, 13 de dezembro de 2025
Manoel Lopes
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