Iniciação do Grau 02 – 2025

Iniciação do Grau 02 – Abaré Yby: O Sacerdote da Terra

Hoje celebramos um momento sagrado e profundamente simbólico: a iniciação do grau 02, Abaré Yby, no Núcleo Mata Verde. Esta cerimônia marca não apenas o avanço espiritual dos iniciados, mas também o fortalecimento coletivo de todos os que trilham este caminho de autoconhecimento e conexão com os Sete Reinos Sagrados da Criação.

Cada grau de iniciação corresponde a um dos sete reinos e seus respectivos orixás regentes. Assim, o iniciado vai gradualmente despertando as forças primordiais que sustentam a vida e a própria estrutura do Universo. Essa jornada é, ao mesmo tempo, um retorno à origem divina e um reconhecimento do papel do ser humano como parte ativa da Criação.

Na Doutrina dos Sete Reinos Sagrados, compreendemos que existe um único Deus, o Criador de tudo o que existe. Contudo, sua natureza é infinita, eterna e incompreensível à mente humana. Por isso, Ele não pode ser representado com forma, rosto ou aparência humana. Deus está além de qualquer conceito limitado — é a consciência que permeia tudo, o movimento e a quietude, o princípio e o fim de todas as coisas.

Mas, para que essa consciência divina possa atuar em nossa realidade, Ela se manifesta em múltiplas expressões, que chamamos de Orixás. Cada Orixá possui uma força divina primordial (Axé), que se manifesta em um dos reinos da natureza, dando forma, energia e propósito à criação. Assim, os Orixás não são “deuses separados”, mas aspectos vivos do mesmo Criador, presentes em cada pedra, rio, árvore, vento e ser humano.

A ciência moderna, ao observar o nascimento do planeta Terra, confirma que a criação não foi instantânea. Ela ocorreu em fases evolutivas, ao longo de cerca de 4,7 bilhões de anos. Cada etapa desse processo reflete um momento de manifestação das forças divinas, que moldaram o mundo físico e espiritual. A Doutrina dos Sete Reinos compreende essas etapas como Reinos Sagrados, cada um regido por um Orixá e por uma energia primordial que sustenta sua expressão.

Na doutrina Umbandista dos Sete Reinos Sagrados, o segundo reino é o Reino da Terra, domínio de Xangô o Senhor das Pedreiras, o Orixá da Justiça, da Lei e do Equilíbrio. Sua força primordial é chamada de Yby Pyatã, a Força Telúrica, a energia que dá forma, sustentação e estrutura a tudo o que existe.

O Reino da Terra é o alicerce da vida. É a base sólida sobre a qual todos os outros reinos se erguem. Representa o poder de concretizar, de transformar o invisível em realidade, o sonho em obra, o pensamento em ação.

No corpo humano, Yby Pyatã se manifesta através do sistema ósseo e muscular, que nos dá forma e movimento. É o reino da força física, da resistência e da estabilidade. Espiritualmente, é o reino da justiça e da retidão, pois nele atua a Lei de Causa e Efeito, a Lei do Retorno e do Equilíbrio.

As pessoas que trazem forte influência da força Yby Pyatã, costumam ser firmes, persistentes e disciplinadas. Valorizam a ordem, o trabalho e a estabilidade. São construtores — de casas, ideias ou caminhos — e encontram sentido em tudo o que é duradouro e verdadeiro. Profissões como juízes, advogados, agricultores, engenheiros e pedreiros refletem essa energia, pois todas lidam com a estrutura, com o limite e com o concreto.

As cores que simbolizam o Reino da Terra são os tons de marrom, representando o solo fértil e a rocha firme. Seu símbolo sagrado é o machado de duas lâminas, emblema de Xangô, que corta com equilíbrio e sabedoria. Representa o poder da justiça divina, que separa o certo do errado, o justo do injusto, não com raiva, mas com sabedoria e amor à verdade.

Estar em harmonia com a energia Yby Pyatã, do Reino da Terra, é sentir-se enraizado e seguro, capaz de permanecer firme diante das adversidades. Porém, quando essa energia se desequilibra, o indivíduo pode tornar-se rígido, inflexível ou teimoso, esquecendo que a Terra, além de firme, também precisa ser fértil e acolhedora.

A iniciação do Grau 02 é, portanto, um convite para que o iniciado fortaleça suas bases — físicas, emocionais, mentais e espirituais — e aprenda a erguer sobre elas o templo da própria alma. É o despertar da consciência de que somos parte da Terra e de que a Terra vive em nós.

Hoje, ao realizarmos esta iniciação, reverenciamos o poder de Xangô e o sagrado Reino da Terra, reconhecendo que sem estrutura, justiça e equilíbrio, nenhuma construção — nem física, nem espiritual — pode permanecer de pé.

Assim, que cada iniciado leve consigo a sabedoria da rocha e a serenidade da montanha, lembrando sempre que o caminho da evolução espiritual começa com raízes firmes na Terra, para então alcançar os céus. Somos como pedras brutas, moldadas pelas experiências e desafios da vida. A cada aprendizado, a cada superação e ato de amor, o Criador nos lapida com paciência e propósito, revelando em nós o brilho da alma que reflete Sua própria luz. Pois a jornada espiritual é justamente esse processo sagrado de polir a essência interior, transformando a rigidez da matéria em consciência luminosa, até que, um dia, possamos refletir plenamente a beleza divina que habita em nosso ser.

Kaô Cabecile!

Saravá!

São Vicente, 05/10/2025

Manoel Lopes

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