A Força da Fé e da Energia Humana

A Força da Fé e da Energia Humana

Esses dias estava conversando com minha esposa, mãe Bete, sobre vários assuntos ligados à Umbanda. Em um certo momento, começamos a falar sobre a fé — e principalmente sobre a falta de fé que temos visto em muitas pessoas, inclusive algumas bem próximas de nós. Antigamente, quando enfrentávamos dificuldades, a primeira coisa que fazíamos era recorrer à fé. Rezávamos, fazíamos nossas preces aos mentores espirituais, pedíamos ajuda aos Caboclos, Pretos Velhos, Baianos, e, de alguma forma, as coisas se resolviam.

Hoje em dia, parece que nem todos agem assim. Fiquei pensando se a nossa fé umbandista realmente nos ajudava a superar os problemas mais graves, até mesmo os de saúde, ou se tudo não passava de um efeito placebo — aquele fenômeno estudado pela ciência em que uma pessoa melhora só por acreditar que está sendo curada.

Mas a verdade é que a fé, seja qual for a religião, tem poder. E esse poder não é apenas místico: a ciência já estudou o assunto. Diversas pesquisas mostram que pessoas com fé tendem a lidar melhor com o estresse, com a dor e com doenças. Isso acontece porque a prática religiosa envolve esperança, acolhimento e convivência social — fatores que influenciam diretamente o equilíbrio emocional e até o sistema imunológico. A fé, portanto, não é apenas um “pensamento bonito”, mas também uma força real que pode transformar nossa vida.

No entanto, percebo que, em muitos terreiros de Umbanda, a fé está perdendo espaço para o espetáculo. Tenho visto, pelas redes sociais, muitos templos com luzes coloridas, som alto, inúmeros atabaques, e pessoas cantando e dançando como se estivessem num teatro — o que é bonito, mas, às vezes, parece faltar a essência. Faltam imagens do atendimento fraterno, da caridade, do acolhimento que sempre foram o coração da Umbanda.

Lembro-me de terreiros pequenos, simples, no fundo de casas, onde bastava um atabaque e meia dúzia de médiuns unidos em harmonia. Havia fé, respeito e amor. Eram lugares onde realmente se sentia a presença dos guias espirituais e a energia boa que ajudava a curar e aliviar as dores da alma.

Outro ponto que me entristece é o chamado fogo amigo: ver irmãos umbandistas criticando sacerdotes e dirigentes, muitas vezes de forma agressiva e desrespeitosa. Isso mostra que, em vez de união, estamos alimentando divisões. A Umbanda é uma religião que nasceu da mistura e da inclusão — pertence a todos, sem distinção de cor, raça ou origem. Quando esquecemos isso, nos afastamos de seus princípios mais sagrados.

Mas voltando ao tema principal — a fé —, é importante lembrar que estamos vivendo uma época de muito materialismo. As pessoas valorizam mais a aparência, o dinheiro e o ego do que os valores espirituais. Mesmo assim, a ciência confirma que a fé e a religiosidade fazem bem à saúde. Estudos realizados em universidades renomadas mostram que pessoas que frequentam templos, igrejas ou terreiros regularmente apresentam menores índices de depressão, ansiedade e até de doenças cardíacas. Isso ocorre, segundo os pesquisadores, porque elas mantêm vínculos sociais, sentem-se acolhidas e encontram propósito na vida.

No Núcleo Mata Verde, onde seguimos a Doutrina dos Sete Reinos Sagrados, aprendemos que o ser humano emite e recebe energia constantemente. Chamamos essa energia sutil e primordial de Abá Pyatã, que pertence ao Reino da Humanidade. Essa força representa a energia humana — a que nos mantém conectados uns aos outros. Quando trocamos essa energia de forma equilibrada, sentimos bem-estar; mas, quando nos isolamos, bloqueamos essa troca e começamos a adoecer emocional e espiritualmente.

Existe também uma técnica que utilizamos chamada Arapé, que consiste na troca direcionada da energia Abá Pyatã. Ela ocorre por meio da imposição das mãos, em que uma pessoa doa sua energia positiva a outra que está necessitando. Essa prática tem apresentado bons resultados como tratamento complementar, pois auxilia na restauração do equilíbrio energético e emocional.

Concluo, então, que viver em sociedade, compartilhar experiências, cultivar boas relações e alimentar a fé — seja ela qual for — são atitudes que realmente transformam nossa vida. A fé nos dá força, esperança e saúde. Ela nos conecta com o divino e também com o próximo. Talvez um dia a ciência consiga explicar completamente esse mistério, mas, enquanto isso, continuaremos acreditando, porque sabemos, pela experiência, que a fé cura, fortalece e nos mantém em pé diante das maiores dificuldades.

Saravá!

São Vicente, 02/11/2025

Manoel Lopes

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