O Fogo que purifica – A Luz da Primeira Iniciação

O Fogo que purifica – A Luz da Primeira Iniciação
Já tive a oportunidade de escrever bastante sobre as iniciações no Núcleo Mata Verde, mas sempre gosto de voltar a esse tema. A cada vez que reflito sobre ele, brotam novas interpretações e ensinamentos em minha alma, pois o caminho espiritual é vivo e está em constante renovação.
No Núcleo Mata Verde existem sete graus de iniciação, e cada um deles está relacionado a um dos Sete Reinos Sagrados da Criação. Cada reino possui suas próprias características, energias e orixás regentes, que orientam o aprendizado e o desenvolvimento do filho espiritual.
Esses graus representam etapas de crescimento interior, onde o médium aprende a servir com mais consciência, disciplina e amor à luz divina.
A primeira iniciação, correspondente ao Grau 01, é realizada após um ano de frequência e dedicação ao terreiro. Durante esse período, o médium aprende os fundamentos básicos da Umbanda, a importância da caridade e o respeito pelas entidades espirituais. Antes dessa consagração, o filho espiritual é chamado de Abá Guassu, que significa “grande servidor” ou “aquele que se prepara para servir à luz”.
Quando o médium é iniciado no Grau 01, ele recebe o nome sagrado de Abaré Tatá, que significa sacerdote do fogo. A cor desse grau é o vermelho, que representa a energia vital, a força e o impulso da vida. O Reino correspondente é o Reino do Fogo, regido por Ogum, o orixá da coragem, da ação e da justiça divina.
O símbolo desse reino é a espada, instrumento sagrado que expressa o poder da vontade, o discernimento e a luta pela luz.
No Núcleo Mata Verde, não realizamos o batismo com água, como ocorre em outras tradições religiosas ou ritos umbandistas.
Costumamos dizer que a iniciação ao Grau 01 representa, na verdade, um batismo com fogo, pois o filho espiritual é consagrado pelas forças do Reino do Fogo após permanecer no terreiro, por livre e espontânea vontade, durante o período de um ano de aprendizado, dedicação e vivência espiritual.
Esse momento marca o despertar da força espiritual dentro do médium, acendendo em seu coração a chama da fé, da perseverança e da coragem.
Durante a cerimônia, o novo Abaré Tatá recebe uma espada consagrada, símbolo do seu compromisso com a luz. Essa espada é comparada com o simbolismo da Espada Flamejante, e deve ser guardada com respeito e devoção no Congá (altar) do iniciado, permanecendo com ele até o fim de sua vida terrena. Ela representa o elo entre o filho e o fogo sagrado de Ogum, lembrando-lhe sempre de agir com retidão e coragem.
A Espada Flamejante é um dos símbolos mais antigos e poderosos da tradição espiritual, mística e iniciática da humanidade. Ela aparece em diversas religiões e mitologias como o instrumento do poder divino em ação, a defesa da luz e a força purificadora do espírito.
Em muitas tradições, a espada flamejante guarda o caminho do sagrado, protege os mistérios divinos e simboliza o fogo da consciência desperta.
No plano interior, a espada flamejante representa o fogo da consciência aceso na vontade humana. É o espírito divino que, através da inteligência e do amor, transforma o guerreiro externo em guerreiro interno.
Empunhar essa espada é agir em nome da luz, com discernimento, pureza e coragem, para defender o sagrado dentro e fora de si mesmo.
No caminho iniciático, ela nos lembra de que o verdadeiro combate não é contra os outros, mas contra a ignorância, o medo e as trevas que ainda habitam o coração humano. Quando o Abaré Tatá empunha sua espada consagrada, ele afirma diante do universo que a chama da luz está viva dentro dele, e que seu propósito é servir ao bem, à verdade e à evolução espiritual de todos os seres.
Saravá!
São Vicente, 29/10/2025
Manoel Lopes

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