O Terreiro como Escola da Alma: Entre Guerras e Intolerância, Escolhemos o Amor

O Terreiro como Escola da Alma: Entre Guerras e Intolerância, Escolhemos o Amor
Hoje é um dia especial no Núcleo Mata Verde. Um momento aguardado com alegria e reverência: realizaremos um rito de iniciação ao Grau 05, na vibração de Pai Oxóssi. Quem acompanha os trabalhos do Núcleo sabe o quanto esses ritos são significativos, não apenas para quem está sendo iniciado, mas para toda a comunidade espiritual que se reúne nesses encontros. É uma cerimônia de crescimento, de entrega, de conexão profunda com os planos superiores e com a espiritualidade que nos guia.
Enquanto preparávamos esse momento tão especial, me peguei refletindo sobre a importância dos ritos dentro da Umbanda e, mais ainda, dentro da Doutrina dos Sete Reinos Sagrados, que é a base espiritual e filosófica seguida por nosso núcleo. Os ritos não são apenas tradições externas — eles são caminhos de transformação interior. Eles marcam as etapas da caminhada do médium, como marcos que sinalizam: “aqui você avançou, aqui você se preparou para um novo nível de compromisso com a espiritualidade e com o bem.”
A Realidade Atual: Um Planeta em Desarmonia
Mas, como muitas vezes acontece, as reflexões espirituais nos levam a pensar também sobre o mundo à nossa volta. Estamos no mês de junho de 2025, e não é difícil perceber que estamos vivendo um momento conturbado. As notícias que nos chegam todos os dias são pesadas. Vemos um planeta sofrendo, fervendo em desarmonia. A natureza dando sinais claros de exaustão. A humanidade mergulhada em crises: guerras, miséria, autoritarismo, intolerância, radicalismos. Parece que, a cada dia, o coração das pessoas vai se tornando mais duro, menos sensível ao sofrimento do outro.
É como se o amor estivesse sendo colocado de lado em nome de ideologias, interesses econômicos ou simples orgulho. Mas nós, que seguimos a Umbanda com fé e consciência, sabemos que não podemos simplesmente assistir a tudo isso de braços cruzados. Nossa religião é uma religião de luta, mas não uma luta com armas ou violência. É uma luta com oração, com caridade, com espiritualidade, com firmeza no bem.
A Missão da Umbanda em Tempos Difíceis
A Umbanda sempre teve, desde sua origem, o compromisso de promover o equilíbrio entre o mundo espiritual e o mundo material. E esse compromisso passa por cada um de nós. Nós que frequentamos o terreiro, que participamos dos ritos, que estudamos, que desenvolvemos mediunicamente, temos a responsabilidade de ser faróis acesos em meio à escuridão.
Nós desejamos um mundo melhor. Queremos viver em um planeta onde haja paz, liberdade, respeito pela vida, por todas as formas de vida. Onde as opiniões diferentes sejam ouvidas e respeitadas. Onde o diálogo substitua o confronto. Onde a fé de cada um seja honrada e protegida, mesmo quando é diferente da nossa.
Por isso, participar de um rito como o de hoje não é apenas celebrar. É também assumir um compromisso. Cada nova etapa na caminhada espiritual nos chama a ser melhores: mais conscientes, mais pacientes, mais humildes, mais dispostos a servir. Oxóssi, o Orixá da caça, do conhecimento e da fartura, nos ensina que precisamos mirar com precisão, agir com sabedoria e cuidar com amor.
E o Mundo Espiritual, Como Está?
Diante de tanto caos no mundo material, me perguntei como estaria o mundo espiritual nesse mesmo momento. Será que os espíritos elevados, os guias, os mentores, estariam conseguindo ajudar? Estariam atuando? E a resposta me veio através de um antigo ensinamento do Espiritismo, que dialoga perfeitamente com a Umbanda.
No Livro dos Médiuns, capítulo 20, item 27, encontramos uma orientação valiosa:
“As qualidades que, de preferência, atraem os bons espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor ao próximo, o desprendimento das coisas materiais.
Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria.”
Essa passagem é clara e direta. Ela nos lembra que, para estarmos próximos das boas vibrações, para atrairmos bons espíritos, precisamos cultivar virtudes verdadeiras em nosso coração. Ser bom de verdade. Ser simples, humilde, desapegado do ego e das vaidades do mundo. Amar o próximo não só com palavras, mas com ações.
Por outro lado, quando deixamos que o orgulho, o egoísmo ou o ódio tomem conta de nós, nos afastamos da espiritualidade superior. Não porque eles nos punem — mas porque nos tornamos energeticamente incompatíveis com sua luz.
Cada Pessoa é um Canal de Luz (ou de Sombra)
Tudo isso nos faz refletir: cada pessoa é, em si, um canal. Podemos ser canais de luz ou canais de sombra. Depende do que alimentamos em nosso interior. Os ritos, os banhos, as guias, as firmezas são importantes, mas se o coração estiver tomado de raiva, de ganância, de vaidade, de julgamento, de que adianta?
Umbanda é espiritualidade vivida. É prática do bem no dia a dia. É respeito. É caridade. É silêncio onde seria fácil gritar. É escutar quando seria mais cômodo julgar. É estender a mão, mesmo quando o outro nos parece ingrato.
Finalizando: Uma Chamada ao Despertar
Hoje, enquanto celebramos mais um passo na caminhada de um médium dentro da nossa corrente espiritual, deixo aqui uma mensagem para todos que acompanham o Núcleo Mata Verde e para todos os irmãos e irmãs de fé:
Vamos continuar firmes na luz. Vamos continuar escolhendo o bem, mesmo quando ele parece difícil. Vamos lembrar que cada pequena atitude importa — um sorriso, um abraço, uma palavra de apoio. Que possamos ser, cada um de nós, um reflexo daquilo que desejamos ver no mundo.
A Umbanda é linda. É forte. É viva. Mas ela precisa ser vivida com sinceridade e entrega. Que o exemplo de Oxóssi nos inspire a buscar o alimento da alma: o conhecimento, a paz e a conexão com o sagrado.
E que, mesmo em meio à turbulência do mundo, possamos manter a nossa firmeza, a nossa fé e a nossa luz acesa.
Axé a todos!
São Vicente, 22 de Junho de 2025
Pai Manoel Lopes
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