Tudo está em Deus, mas Deus é maior do que tudo.

Tudo está em Deus, mas Deus é maior do que tudo.
O que é Deus? Essa é uma das perguntas mais antigas da humanidade, uma questão que atravessa gerações e que nunca perde a importância. No último texto que apresentamos aqui no blog, comentei que pretendia iniciar uma série dedicada à doutrina dos Sete Reinos Sagrados. Mas antes de mergulharmos nesse estudo, é fundamental refletir sobre conceitos que servem de base para todo o entendimento espiritual. Entre essas questões estão: o que é Deus, o que é o espírito, como é o universo, qual a finalidade da vida, o que é a vida e o que é a morte. Essas perguntas precisam ser apresentadas e refletidas com atenção, porque ajudam o umbandista – e qualquer buscador sincero – a se posicionar diante da vida e da sociedade.
Sempre comentamos que a Umbanda é fruto da união de várias culturas, religiões e escolas espirituais. Porém, mesmo reunindo tantas influências, ela possui um tronco principal que chamamos de doutrina umbandista. Para explicar esse processo, fazemos uma comparação com uma árvore: as raízes são as várias tradições e influências de onde nasceu a Umbanda, o tronco é a doutrina em si, e os galhos representam os diversos rituais, práticas e escolas que se desenvolveram ao longo do tempo, moldados pelas influências que cada casa de Umbanda recebeu ou ainda recebe. Chamamos isso de diversidade de ritos umbandistas, e já comentamos bastante sobre esse tema em outros momentos.
Hoje, porém, queremos tratar de algo central, um assunto da maior importância e que sempre gera múltiplas interpretações nas diversas religiões e escolas místicas: Deus. E para falar de Deus, consideramos essencial responder primeiro à pergunta “O que é Deus?”, antes mesmo de refletirmos sobre “Quem é Deus?”. Isso porque, quando compreendemos a natureza de Deus, conseguimos entender também como Ele se revela em nossa vida pessoal.
Existem muitas formas de interpretar Deus, mas há algumas certezas que podemos afirmar. Uma delas é que Deus não tem corpo animal semelhante ao nosso. Ele não é uma figura humana gigantesca sentada em algum trono distante. Deus vai além de todas as imagens que possamos imaginar. Ele é maior que qualquer representação, maior que qualquer definição. Deus é o criador de tudo e de todos. Somos criados e sustentados por Ele, e somos feitos da mesma essência divina, o que significa que carregamos em nosso íntimo uma centelha do divino. Tudo está em Deus, mas Deus é maior do que tudo.
Nos cursos que apresentamos no Núcleo Mata Verde, sempre adotamos o conceito do panenteísmo. Essa visão nos ensina que o universo inteiro está em Deus, mas que Ele é sempre maior que o universo. Ou seja, Deus está presente em tudo – é imanente – e ao mesmo tempo vai além de tudo – é transcendente. Nada existe fora d’Ele, e ainda assim Ele é infinitamente mais amplo do que tudo o que conhecemos.
Deus sempre foi e sempre será. Não tem começo nem fim. Ele é eterno. Em sua criação, seguiu uma sequência grandiosa: primeiro criou a dimensão espiritual, depois os seres espirituais, em seguida o universo material e, por fim, toda a vida que nele existe. Essa ordem mostra que a realidade visível que enxergamos com nossos olhos não é a primeira nem a mais importante obra divina, mas sim parte de um plano muito maior.
Ao longo da história, os seres humanos buscaram diferentes formas de entender esse mistério. Alguns O veem como um Criador pessoal, como nas grandes religiões monoteístas, onde Deus é Pai, guia e protetor, que se relaciona com cada pessoa e ouve suas orações. Outros O entendem como uma força universal ou energia criadora, presente em todas as coisas, sustentando cada átomo e cada estrela. Há ainda quem veja Deus como as próprias leis naturais, o equilíbrio perfeito que faz o universo funcionar, ou como uma consciência universal da qual todos nós somos expressões vivas. Muitas tradições espirituais destacam o amor como a maior definição de Deus: amor incondicional, força que une e sustenta todos os seres. Outros preferem reconhecer que Deus é, acima de tudo, um mistério. Algo que não pode ser descrito em palavras, mas que pode ser sentido no coração.
Cada uma dessas visões representa um esforço humano para se aproximar do divino. Nenhuma delas é suficiente por si só, mas todas trazem aspectos importantes daquilo que é impossível de ser explicado completamente. Para nós, no entanto, o panenteísmo ajuda a sintetizar essas compreensões, porque afirma ao mesmo tempo a presença de Deus em tudo e a sua infinitude além de tudo.
Compreender Deus dessa forma nos leva a refletir sobre nossa própria existência. Se fomos criados por Ele, se somos sustentados por Ele e se carregamos dentro de nós uma centelha de sua essência, então nossa vida é sagrada. Nossas atitudes, pensamentos e escolhas estão intimamente ligadas a essa presença divina. Quando agimos com bondade, quando respeitamos a natureza, quando cultivamos a justiça e o amor, estamos nos aproximando de Deus. Mas quando nos afastamos do bem, quando desrespeitamos a vida, estamos nos distanciando da centelha divina que habita em nós.
Falar de Deus nunca será simples, porque Ele é infinito e nossa linguagem é limitada. Mas o que realmente importa é entender que Ele é a fonte de tudo o que existe, que está em todas as coisas e, ao mesmo tempo, vai além delas. Ele é eterno, criou a dimensão espiritual, os seres espirituais, o universo material e toda a vida. Ele é mistério e presença, é amor e lei, é consciência e energia. E, acima de tudo, Ele é quem nos dá a vida e nos mantém vivos.
Antes de aprofundarmos nos ensinamentos dos Sete Reinos Sagrados, precisamos carregar essa certeza em nosso coração: tudo está em Deus, mas Deus é maior do que tudo. Essa é a base sobre a qual podemos compreender o universo, a vida, o espírito e também nosso próprio caminho espiritual.
Saravá!
SJC, 10/09/2025
Manoel Lopes
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