O rito da quartinha branca – o elo espiritual
A espiritualidade não desampara ninguém.
Todos nós que estudamos e vivemos a umbanda sabemos desta verdade, conhecemos este amor — universal — que a espiritualidade tem por todos nós.
Infelizmente ainda existem algumas (poucas) pessoas que não conseguem entender este amor universal, da espiritualidade por nós.
O Terreiro é um lugar sagrado onde nos conectamos com o sagrado.
Costumo sempre falar que na Umbanda nos conectamos a Deus através dos Orixás e Guias espirituais e fazemos isto no Terreiro.
Nós os médiuns somos somente os intermediários, cuja tarefa é facilitar este contato, recebemos a oportunidade única de servirmos aos mestres de Aruanda.
Mas não somos seres perfeitos e espíritos iluminados, muito pelo contrario, somos pessoas normais com muitos defeitos.
Às vezes leio nas redes sociais críticas a terreiros, pais e mães, a Babás feitos por filhos que nem bem iniciaram sua caminhada espiritual e já se sentem seres superiores, perfeitos e se dão no direito de destilarem ódio e críticas ferrenhas a seus antigos pais espirituais.
Por algum motivo, se afastaram daquele terreiro, que lhes acolheu num momento difícil, onde viveram momentos felizes, onde encontraram forças para prosseguirem, mas parece que o tempo apagou suas lembranças.
Agora só destilam ódio e rancor, fazem críticas amargas a seus antigos pais espirituais. Querem romper a todo custo seus elos com o terreiro, é como se o passado não existisse.
Este tipo de comportamento me entristece! Mas infelizmente ainda é muito comum.
É uma sensação de trabalho perdido!
Dias e dias orientando, ensinando, ouvindo seus dramas, abrindo muitas vezes mão de sua vida particular e depois a triste descoberta de que nada adiantou e que tudo foi em vão!
Tempo perdido!
Estas pessoas não entenderam nada, continuam da mesma forma de quando chegaram ao terreiro!
No Núcleo Mata Verde possuímos um rito para lembrar ao iniciado que ele sempre estará ligado ao Terreiro.
O iniciado anualmente passa por um ritual de iniciação e durante sete anos vai subindo aos graus iniciáticos da doutrina dos sete reinos sagrados.
Espera-se que durante este período ele vá conhecendo a doutrina, se espiritualizando, se livrando dos vícios e paixões que o prendem a Terra.
No rito de iniciação oferendamos o orixá regente do grau, com flores e velas, batemos a cabeça para este orixá, cantamos, fazemos juramentos e preces, fazemos agradecimentos e pedidos, recebemos o elemento do reino, recebemos a grau pelo pai de santo e participamos do “rito da quartinha”.
Esta parte do rito de iniciação que chamamos de “rito da quartinha” não possui um nome especifico, simplesmente utilizamos este nome para identificar este ato de fé, entrega e confiança.
Sobre o Congá do Núcleo Mata Verde, existe uma pequena quartinha branca. Ela é pequena no tamanho, mas grande no ensinamento.
Embora seja um rito interno e não possa divulgar em detalhes, em sinal de respeito a coroa espiritual do Terreiro, vou comentar ligeiramente sobre a finalidade deste rito.
Nesta quartinha o filho, em cada iniciação, deposita um elemento que ficou com ele o ano todo.
É um elemento que o acompanhou durante todo o período entre uma iniciação e a outra, que está imantado com seus fluídos espirituais, com suas vibrações — representa a própria pessoa.
É como se fosse um pedacinho da pessoa.
É um elo da pessoa com o Terreiro.
Quando ele, solenemente, coloca o elemento dentro da quartinha ele irá se misturar com os outros elementos, que já se encontram dentro da quartinha e que representam os outros filhos do terreiro, ou seja, a partir deste momento não é possível mais retirar aquele elemento, pois todos são semelhantes.
À partir deste momento aquele elo, entre o filho e o Terreiro, que se encontra dentro da quartinha, em cima do Congá, nunca mais será retirado da quartinha.
O elo nunca mais será quebrado!
Ficará recebendo as forças espirituais do Congá!
O “rito da quartinha” ensina que dentro do terreiro todos somos iguais.
Também ensina que um pedacinho do iniciado sempre ficará dentro do Terreiro recebendo as vibrações espirituais da corrente da casa.
Mesmo se um dia o iniciado se afastar do terreiro, ir para outro terreiro, sair da religião ou desencarnar, ele continuará ligado a coroa espiritual do Terreiro, que é a coroa espiritual do Pai de santo do terreiro.
O conselho dos Morubixabas estará lá de Aruanda acompanhando aquele filho.
É um simples rito, que nos faz refletir sobre o respeito que precisamos ter com nossos irmãos, terreiro e pai de santo, mesmo que um dia não estejamos mais naquele terreiro.
Você pode até esquecer que passou pelo Terreiro, mas a espiritualidade não irá esquecer-se de você.
Vibremos amor e respeito!
São Vicente, 28/12/2021
Pai Manoel Lopes