Quem sou eu? Entendendo o eu espiritual e o eu humano

Recentemente escrevi um texto comentando que tenho me dedicado, com muito carinho, a ouvir e me aproximar dos jovens que frequentam o Núcleo Mata Verde. Esse é um trabalho que me alegra profundamente, porque acredito que a juventude é uma das forças mais bonitas e transformadoras da vida. Nos olhares curiosos, nas dúvidas sinceras e na vontade de aprender, vejo acesa a chama do futuro, uma chama que precisa ser cuidada, alimentada e guiada com amor, paciência e sabedoria.
Foi com esse sentimento que decidi criar um projeto chamado “Jovens e Espiritualidade na Umbanda”. A ideia é simples, mas muito especial para mim: escrever uma série de textos espirituais voltados aos jovens umbandistas, um texto por semana, oferecendo um olhar acolhedor e coerente com os ensinamentos dos Sete Reinos Sagrados e com a sabedoria dos guias espirituais. Mais do que informar, quero abrir caminhos para diálogos sinceros, reflexões profundas e, principalmente, para fortalecer a caminhada espiritual de cada jovem que faz parte desta grande corrente de luz.
Vivemos tempos de muitos desafios, mudanças rápidas e questionamentos intensos. A espiritualidade, quando bem compreendida, pode ser uma grande aliada nesse processo, ajudando a dar sentido à vida, fortalecer valores e despertar potenciais que muitas vezes estão adormecidos. Por isso, acredito que construir pontes entre o universo espiritual e a realidade dos jovens é uma missão importante e necessária.
Para organizar os próximos temas, pretendo fazer uma enquete entre os jovens do Núcleo, ouvindo suas dúvidas e curiosidades. Quero que essa jornada seja construída junto com vocês, de forma viva, participativa e verdadeira. Mas, para começar, escolhi um tema que acompanha a humanidade desde sempre e que, acredito, também faz parte das reflexões de muitos jovens: “Quem sou eu?”.
Essa pergunta, aparentemente simples, carrega uma profundidade enorme. Ela nos convida a olhar além da superfície, a reconhecer que somos mais do que um nome, uma aparência ou um papel social. Por isso, o primeiro texto dessa série se chama:
Quem sou eu? Entendendo o eu espiritual e o eu humano
Essa é uma pergunta que acompanha a humanidade há muito tempo: “Quem sou eu?” À primeira vista, parece simples responder. Muitos diriam seu nome, idade, profissão ou algo que gostam de fazer. Mas, na verdade, essa pergunta vai muito além disso. Ela toca em algo profundo: a diferença entre o “eu humano” e o “eu espiritual”.
Quando nascemos, recebemos um corpo físico. Esse corpo cresce, sente frio, fome, alegria, medo e dor. Ele muda com o tempo, aprende, envelhece e um dia morre. Tudo isso faz parte do que chamamos de Eu humano. É a nossa identidade aqui na Terra: nosso nome, aparência, gostos, cultura, emoções e experiências. O eu humano vive no tempo presente, em um mundo cheio de desafios, escolhas e responsabilidades.
Mas dentro desse corpo físico existe algo maior: o eu espiritual. É a parte de nós que não envelhece, não se limita a um nome e não desaparece quando o corpo morre. O eu espiritual é nossa essência, nossa alma, a energia que dá vida ao corpo. Ele carrega memórias, aprendizados e sentimentos muito além desta existência. É como se o corpo fosse um carro, e o espírito, o motorista. O carro pode ser trocado ou envelhecer, mas quem dirige continua existindo.
Muitas vezes, passamos boa parte da vida cuidando apenas do nosso eu humano: estudamos, trabalhamos, queremos ter amigos, roupas, viagens e bens materiais. Tudo isso é importante, pois faz parte da experiência humana. No entanto, se esquecermos do nosso eu espiritual, podemos sentir um vazio difícil de explicar. É aquela sensação de que “falta alguma coisa”, mesmo quando temos tudo. Já tratei desse assunto nas reuniões de quarta-feira. Isso acontece porque a alma também precisa de atenção, alimento e crescimento.
Cuidar do eu espiritual não significa fugir do mundo ou abandonar a vida aqui. Pelo contrário, é aprender a viver com mais equilíbrio. Quando ouvimos nossa voz interior, sentimos gratidão, ajudamos alguém ou nos conectamos com a natureza e com o sagrado, como fazemos no Núcleo Mata Verde, fortalecemos o eu espiritual. Ele nos dá clareza, coragem e sabedoria para enfrentar os desafios da vida humana.
É importante entender que o eu humano e o eu espiritual não são inimigos — eles são parceiros. O corpo nos permite viver experiências, aprender e evoluir. O espírito dá sentido a essas experiências e nos ajuda a enxergar além da aparência das coisas. Quando conseguimos equilibrar essas duas partes, vivemos com mais consciência, amor e propósito.
Imagine uma árvore: o eu humano são as folhas e os galhos visíveis — aquilo que todo mundo vê. Já o eu espiritual são as raízes — aquilo que sustenta, mesmo escondido. Se as raízes estiverem fortes, a árvore resiste ao vento, floresce e dá frutos. Da mesma forma, quando nossa conexão espiritual está fortalecida, conseguimos enfrentar melhor as dificuldades, crescer e espalhar coisas boas ao nosso redor.
Por isso, perguntar “Quem sou eu?” não é só dizer seu nome ou contar sua história de vida. É olhar para dentro, reconhecer que você é muito mais do que o que aparece no espelho. Você é corpo e alma, matéria e espírito, visível e invisível. E quando você entende isso, começa a trilhar um caminho mais consciente, verdadeiro e cheio de significado.
Lembre-se: você não está aqui por acaso. Seu eu humano é temporário, mas seu eu espiritual é eterno. Cuidar dos dois é a chave para viver com equilíbrio, sabedoria e amor. Essa jornada começa com uma pergunta simples, mas poderosa: Quem sou eu?
Saravá!
SJC, 18/10/2025
Manoel Lopes
Obs.: O Caboclo Mata Verde sempre diz: “Quando a sua parte espiritual está feliz, a parte material — a sua vida material — também fica feliz e prospera.”
Essa frase simples carrega uma sabedoria profunda. Ela nos lembra que o equilíbrio entre o espírito e a matéria é essencial para uma vida plena. Quando cultivamos a fé, a conexão com o sagrado e o cuidado com nossa alma, criamos uma base sólida para que o mundo material também floresça. É como se a luz interior iluminasse os caminhos exteriores, atraindo boas oportunidades, harmonia e prosperidade.
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